terça-feira, 13 de outubro de 2009

MARINA

Daniel Araújo




Enquanto os olhos da cidade repousam sobre cada cota de sangue do velho travesti jogado na rua molhado molhada como uma Tele Sena perdida jogada jogado no lixo sangue e chuva escorrendo na janela como lágrimas, Marina parecia uma louca um louco delineador desenhando um rosto perfeito feito uma gata no cio sem frio, decotada pelas ruas algemadas como se cada vírgula fosse um poema como se cada gota da gata fosse um acessório dispensável como vírgulas e pontos elegantes disfarçando um texto vazio – as grandes esmeraldas – então tudo continua a não fazer nenhum sentido, no entanto brilham as esmeraldas e os dentes separados no ninho – olhos oásis, noites do norte (juro que vou pra Salvador este ou ano que vem depois de Buenos Aires). Marina, o nome mais lindo, vive delineando situações inverossímeis e a cada talvez (dentro dela) nasce um sim e morre um não. A cada não nascem cem (possíveis) sins. Marina se molha de água do mar. Fecha os olhos e sorri morna e lisa.


ARIEL

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Cena Aberta

Foto de Ariel Pádua

Entre tantos antecedentes impertinentes (fatos fúteis), refutados logo de cara com a ferida aberta em cena: sonhos de Ovomaltine, garrafas, Pet Shop Boys na vitrola. Numa das gaiolas, um hamster tenso – penso nas férias na praia. Preciso nadar, correr e lembrar. Correr e lembrar.


Ariel