terça-feira, 31 de maio de 2011

toxinas

ligo a TV
aquela amiga fiel
que paguei em 12 vezes
com assistência estendida

enquanto durarem os programas
superpopulares
de sábado à tarde

a tela é quadrada
como a janela da sala
com grades

mas tudo que nela passa
desce redondo
mas nada fica
nem as lindas e chocantes
assimetrias

ariel

sábado, 21 de maio de 2011

joão de barro

hoje fiquei de coração calado
deixei os romances e os calmantes
presos na gaveta
(comportados)

hoje fui ver o sol nas calçadas
que esburacadas falavam
'a vida tem que ser arte
nunca um mero artesanato'

hoje fiquei bravo, alegre, triste
porque vivo, e, vivo, sou, feliz

e sendo, vou querendo
e o querer tem disso
isso de ter e de não ter

todos querem ter razão
de qualquer coisa
só pra ter
é quando perdem tudo
sem perceber

a razão nunca ajudou muito
vamocombinar
entre ter razão e ser feliz
a segunda opção sempre será
a mais desejada.

só não quero ter razão
- a razão dos chatos -
os chatos sempre tem razão.

ariel

Desabafo

Meu mundo interno é feito de vida, vida de verdade. Pois assim deve ser. Por isso não devo me estender. Nem brincar com as palavras. Porque as palavras são coisa séria. E valem ouro. E a verdade pode ser dita em poucas e simples palavras. Simples, raras, caras... As coisas complexas nem sempre são boas, mas são sempre complexas. Mas, não vamos aqui, culpar as palavras. São sempre as pessoas, não as palavras. As palavras, bonitinhas lá como estão no dicionário, são fieis ao seu sentido. Mas as pessoas pretendem, dissimulam, fingem, mentem. E nós acreditamos quase sempre porque somos enganáveis. Toda pessoa é enganável. Justamente por confiar. Confiar, um verbo tão nobre. Sobretudo, confiar nos próprios sentidos. E tomar como verdade o que parece verdade. É nessa hora que o virtual fura a fila e entra na festa do real sem ser barrado. E, quando os nossos sentidos são enganados, nos sentimos os únicos idiotas do mundo. Não. O ser humano, tal como é, não pode tomar uma decisão por segundo. Por isso erra. E erraria mesmo que tivesse tempo de decidir. Então, decidi parar um pouquinho de reagir e reagir e apenas executar tarefas sem sentido, sem tesão, sem prazer. Só quero mudar, mudar, mudar...

Ariel Pádua