sexta-feira, 14 de maio de 2010

O Bruxinho Adolescente


Ele era querido por todos. O bruxinho adolescente dos anos 80/90. Zerou Supermario 8 vezes no Phantom System. Era fã de Madonna, Lenny Kravitz e Radiohead. Meio loiro assim do cabelo queimado tipo surfista, mas sem aquela pegada, era meio nerd, surfista de butique e já morou em Floripa até.

João Lucas, tinha nome comum, nome composto, nome de dois santos, mas de comum nada tinha. Era o cara. Seu quarto cheio de pôsteres e coleções de tudo que não tem utilidade. Aparentemente comum, clichê. Mas, admirava Pasolini, Almodóvar... Achava meio nada a ver jogar basquete, odiava a Globo e acreditava em conspirações. Depois, meio que acostumou, aceitou a vida, a Shakira, o Ricky Martin, k-k-k.

Beijou as mãos de sua mãe, logo ao acordar, e pensou em coisas da vida, coisas da mídia: qual o sentido de torcer pro Palmeiras, gente? Qual a proposta?$!%#

Sua idade, 15 e meio. Quase já podia votar. Era quase já um lobisomem americano. Brasileiro. Acreditava em Deus. Na Mãe Terra. No Bill Clinton, no Bill Gates, na Ruth Cardoso... Só não acreditava em si mesmo. Cheio de espinhas, complexado, tímido, (invisível).

Em cada lágrima de cafeína, sentia gosto de chuva, enxurrada, gripe, escola, piolho... A infância ia embora, junto com a caixa de brinquedos da Estrela, o Phantom System e as coleções que não combinavam com a nova decoração da casa. Dona Vera, chamou um arquiteto de nome na cidade, o mais medíocre e mais rico.

João Lucas só fazia cursinho e pensava no jeito mais fácil de sair de casa pelo elevador social. E voltar, só pra se mostrar, cheio de histórias, como um vencedor, como nos games: matar o chefão e passar de fase.

Cafona, sonhou com marte, tipo um filme B ou um clipe da Britney Spears, caminhava em marte. Na terra vermelha, árida, deserta, como a vida ia ser pra sempre.

GAME OVER

Ariel Pádua

2 comentários:

Blog Viagens disse...

Achei o máximo!!! Bjos, Ariel!

Ah, em julho a gente vai estar aí em Rio Preto no FIT. (Não vai prestar..)

Yasmin disse...

lindo. triste. ambiguo e vivenciado ao meu ver. de gosto extraordinario.