quarta-feira, 26 de maio de 2010
corriqueiro
papoproar condicionado a engolir sapos e mentiras sempre evito sem sucesso a primeira pessoa do singular calçado como com os olhos como aquela noite os cadarços coloridos no plural afinal circular preciso de rimas mais finas metáforas mais desaforadas menos óbvias no próximo possível poema se não vão saber que eu não tenho mesmo nada a dizer assim divertido talvez eu faça sentido fragmentado desviando de formigueiros civilizados roubando livros de autoajuda
ariel
sexta-feira, 14 de maio de 2010
O Bruxinho Adolescente
Ele era querido por todos. O bruxinho adolescente dos anos 80/90. Zerou Supermario 8 vezes no Phantom System. Era fã de Madonna, Lenny Kravitz e Radiohead. Meio loiro assim do cabelo queimado tipo surfista, mas sem aquela pegada, era meio nerd, surfista de butique e já morou em Floripa até.
João Lucas, tinha nome comum, nome composto, nome de dois santos, mas de comum nada tinha. Era o cara. Seu quarto cheio de pôsteres e coleções de tudo que não tem utilidade. Aparentemente comum, clichê. Mas, admirava Pasolini, Almodóvar... Achava meio nada a ver jogar basquete, odiava a Globo e acreditava em conspirações. Depois, meio que acostumou, aceitou a vida, a Shakira, o Ricky Martin, k-k-k.
Beijou as mãos de sua mãe, logo ao acordar, e pensou em coisas da vida, coisas da mídia: qual o sentido de torcer pro Palmeiras, gente? Qual a proposta?$!%#
Sua idade, 15 e meio. Quase já podia votar. Era quase já um lobisomem americano. Brasileiro. Acreditava em Deus. Na Mãe Terra. No Bill Clinton, no Bill Gates, na Ruth Cardoso... Só não acreditava em si mesmo. Cheio de espinhas, complexado, tímido, (invisível).
Em cada lágrima de cafeína, sentia gosto de chuva, enxurrada, gripe, escola, piolho... A infância ia embora, junto com a caixa de brinquedos da Estrela, o Phantom System e as coleções que não combinavam com a nova decoração da casa. Dona Vera, chamou um arquiteto de nome na cidade, o mais medíocre e mais rico.
João Lucas só fazia cursinho e pensava no jeito mais fácil de sair de casa pelo elevador social. E voltar, só pra se mostrar, cheio de histórias, como um vencedor, como nos games: matar o chefão e passar de fase.
Cafona, sonhou com marte, tipo um filme B ou um clipe da Britney Spears, caminhava em marte. Na terra vermelha, árida, deserta, como a vida ia ser pra sempre.
GAME OVER
Ariel Pádua
terça-feira, 4 de maio de 2010
Foto Síntese
Cansado, vazio e quase feliz, João acendeu o cigarro proibido – fugir do tédio insípido, inodoro, incolor, onipresente, onipotente e, quem sabe, onisciente. O tédio, companheiro, junto da pinga e do cigarro proibido. Todos os sentimentos, João sentia. Nem todos entendia. Não entendia era nada. Seguia sua vida, predestinada. E, aos vinte e sete anos do segundo tempo, João não sabia pra onde ia. Não entendia a própria história, não lembrava de piadas. Desaprendeu a sorrir, desaprendeu a amar. João tudo sentia, tudo era, nada sabia. Seu coração vagabundo guardava o mundo. Na hora de dormir, abraçou o travesseiro com as pernas, de lado, na cama, como um feto. Metade das pernas cobertas, leve lençol, suave sensação, proteção... Neste dia, algum dia na vida de João, o calor era considerável, mas de ventilador não gostava. E, para finalizar o ritual – bobo, banal, profano, possível, secreto, sagrado – macarrão e meditação. De barriga cheia e cabeça serena, dormiu gostoso, a velha criança e acordou amanhã/ontem/hoje. Era preciso acordar, fazer coisas, sentir-se útil como se viver fosse quebrar nozes. Estúpido e frenético, sim, estúpido e frenético como um rato esportista em busca de um queijo impossível. Pois era no seu relativo ócio que a criança crescida criava, voava, voltava e sentia-se um alguém tendo o mundo como mestre. Às vezes, saia só, no sol, suava, sorria. Sentia a vida mais viva, às vezes. Mas a hora é nossa senhora e a semana tem sede. Então, sem olhar no relógio, foi pro escritório, a criança crescida, o rato estúpido. Café, piadas previsíveis, tudo de novo. Tudo tão velho. Na tela, o impossível queijo. No céu, o possível sol, ardendo, queimando, brilhando.
Ariel
Ariel
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