quinta-feira, 3 de junho de 2010

Coleção


Página 57, percebeu que o livro tinha profundidade, alguma alma, certa originalidade, possíveis dimensões sociológicas, mas era chato, bem chato.

Cada palavra, mal colocada, tinha uma sombra com vida própria. Tudo devidamente coberto por poeira.

A mala era pesada como sua vida. E como um gato, de pé, com fé, lambia as próprias feridas.

Será que vai chover? Até quando Israel usará o passado e o cinema para justificar o presente? A dor branca dói mais?

Enquanto Thor latia carente e pardais caiam duros do céu azul-céu como meteoritos...

Bichas suburbanas, chineses, putas, ciganos e corretores de seguros celebravam o Dia do Trabalho.

Todos procuravam um milagre representado quando o real é fantástico demais para ser verdade.

O álbum de figurinhas da Copa fervia, ao sol, no banco de trás do Fusca laranja.

Latia Thor, carente, para pequenos garotos que sorriam malvadinhos com seus estilingues improvisados.

Sombra de mim, caricatura quase cicatrizada, fechei o álbum incompleto, botei na terceira gaveta.

E dormi sem respostas.

Ariel Pádua

Um comentário:

A-peristáltica disse...

Belo - o melhor que li aqui, até agora.