Jorrou as últimas lágrimas diante de quem não merecia. Consumiu seus derradeiros gestos em busca do que nunca alcançaria. Elevou-se ao topo da humilhação após ensaiar um nada-a-perder. E lá, debruçado sobre o parapeito do décimo andar, calculou o quanto de culpa cada um dos responsáveis pela sua desgraça carregaria pelo resto da vida. Por um momento, acovardou-se. Avaliou o estrago ao descer na recepção do prédio e ver o local onde teria caído. Sentiu prazer, como se visse realizado seu desejo de vingança. E assim, saiu pela rua a pensar na repercussão de seus atos, deixando sempre claro para si mesmo que ainda não havia desistido. Parou num bar, encheu um copo, respirou, engoliu e sentiu algo estranhamente bom. Olhou para o lado e viu que ela o observava. Um sorriso. A retribuição do sorriso. Estavam renovados seus estoques de lágrimas e gestos, e construiu-se mais um andar em seu edifício.
Márcio Medrado
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sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
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