sexta-feira, 26 de março de 2010

Achismo Científico

Foto: Vanessa Cornélio

Gosto de acreditar em belas palavras. Nas minhas próprias que, muitas vezes, coloco no papel, ou melhor, na tela. Mas ela vivia na dela. Não me dava trela. Não me dava tempo de ser quem eu era. Logo eu? Eu que sei muito bem que não existe mulher de vida fácil e que malandro só se fode.

Malandro é malandro, Mané é Mané. Mas, Mané se dá bem no futuro, malandro! O presente é dos malandros, o futuro dos Manés. Não dá pra cortar caminho impunemente, entende? Mais cedo ou mais tarde, a gente tem que voltar naquele ponto onde tudo parecia somente uma questão de escolha.

Ridículo! Como posso escolher o que não conheço? Por acaso tenho bola de cristal? O que posso fazer é chutar, a bola pra frente, de preferência. E não a bunda de alguém! Chute intuitivo e não uma decisão racional. Voltar lá atrás, às vezes, é correr lá na frente.

Não existe ciência que não seja humana. Não existe humano que seja perfeito. A perfeição é um ideal a ser buscado. A razão é um achismo científico. É um abismo entre o homem e ele mesmo. Entre o bicho inteligente e sua própria natureza.

Ninguém nunca optou por ser negro, gay ou nordestino. Ninguém nunca escolheu nascer lesma. Somos o que somos e tem certas coisas que a gente tem que viver com elas. Ninguém passa de ano sem prestar exame. Ninguém chega ao amor sem passar pela dor.

O livre arbítrio também é um ideal que vive no mundo da intenção. E a intenção vale tanto, ou mais, que a ação, porque a vida é um sonho. Então, por via das dúvidas, daqui em diante, vou rimar tudo com flor e ter sempre a precaução de jamais jogar sal nos sapos.

Ariel Pádua

3 comentários:

[Farelos e Sílabas] disse...

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Fazendo uma visita por aqui, catando letras pelo caminho...

O texto lança tantas sementes:

Ideal.
Perfeição.
Livre-arbítrio.

Analisamos o mundo pelo prisma de nossa construção. Há muita ‘ciência’ até na cultura, que, por sua vez, nos molda o “como” olhamos o que olhamos. Nossas interpretações acabam ‘viciadas’ pelo que nos forma o olhar... Daí, a gente compreende em parte. E vivemos seguindo parte do que compreendemos.

O que entendemos de ideal e de perfeição é fruto da cultura grega. Eles diziam que o ideal, o que é perfeito, é o que está pronto, acabado. Perfeito pra gente é o que já alcançou o fim, não precisa evoluir, ta pronto! Isso não existe, é apenas uma forma de olhar. A forma dos gregos que nós apreendemos, naturalmente, pela cultura em que fomos formados. Perfeição, pra mim, é a certeza da inadequação. Somos perfeitos na riqueza de sermos apenas humanos. Errantes e aprendizes

Bem, mas é apenas [mais] outro olhar. Eu vim aqui [apenas] pra parabenizar pelos textos que fui lendo enquanto caminhava...

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Loo disse...

Esta mania de sermos tão livres acaba levando a gente para o buraco.

Aí a gente tem que carregar o tipo "underground", "undertudo", espiando o sol lá de baixo.

Ariel Pádua disse...

Oh, mother, why aren't you here with me?
No one else saw the things that you could see
I'm trying hard to dry my tears
Yes, father, you know, I'm not so free

Madonna


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beijos, Loo!