sábado, 23 de maio de 2009

Anjos da Lei

“Feira moderna, convite sensual, ó telefonista, a palavra já morreu” – cantava o rádio ou a vitrola de Campinas (ou talvez São José dos Campos) em 1983, se não me falham os cálculos. Eram tempos estranhos, gelados. O chão de tacos da casa ou do apartamento. Eu era sempre o primeiro a acordar e a TV era a minha primeira companhia do dia. Os heróis japoneses, a Penélope Charmosa, a Mulher Maravilha (linda, Linda Carter). As empregadas. Os brasileiros têm empregadas, até os pobres têm empregadas. Sempre tem alguém mais pobre que você e eu ficava sempre com alguma empregada pré-adolescente enquanto meu pai escrevia em um jornal ou revista de Campinas (ou do Vale do Paraíba) e minha mãe estudava para recuperar o atraso devido a gravidez precoce. Estávamos sempre fazendo e desfazendo as malas. Eram tempos de solidão nua. Fragmentos, pesadelos. Mas eu tinha a TV. Minha melhor amiga durante muitíssimos anos: Ultra-Seven, He-Man, Kate Mahoney.

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