domingo, 24 de maio de 2009

Jussara na hora

No mundo há pessoas boas e pessoas más (Gilberto Braga tem toda a razão). Sim. Há pessoas boas e más, e quem já sentiu na pele sabe o que estou falando. Mas há os bonzinhos, sim, há os bonzinhos, e, entre eles, estão todos os confusos, os perdidos, os inseguros, os covardes, os fúteis, os invejosos: todos bonzinhos que são maus nas horas vagas. “A ocasião faz o ladrão”, dizia a minha avó. “Foi sem querer querendo”, dizia o Chaves na televisão. É mais ou menos isso que acontece quando todos os liquidificadores do mundo batem ao mesmo tempo. Jussara escolhe o seu suco pela cor, beterraba, vermelho-sangue e bebe, triunfante, enquanto escuta uma voz que parece vir do céu: JUSSARA SUA HORA CHEGOU. Então se lembra que precisa desligar o gás e dar duas voltas na chave da porta dos fundos. Jussara atingiu um nível de lucidez tão alto que a vida tornou-se um jogo idiota. Foi deitar-se, serena, esperando os efeitos dos remédios. Desmaiou nas trevas da inconsciência e dormiu morta. Sonhou com homens nus tomando banho entre cenas dos seus filmes favoritos: Psicose e Poltergeist. O chuveiro, o sangue de chocolate, a tevê fora do ar, a garotinha engolida pela tevê. Toca o despertador. Jussara acorda na hora, prepara uma vitamina com um pouco de granola e vai trabalhar. No silêncio sagrado do metrô, ela vai pensando na vida, no que fazer no seu único dia de folga semanal. Seu salário acabou. Não vai dar pra visitar o filho que mora com o pai em Diadema, não vai dar pra tomar um vinho barato argentino, não vai dar pra se jogar na Loca. Não vai dar.


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DO COMEÇO AO FIM
http://www.youtube.com/watch?v=3DVa2DKSnU0

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