segunda-feira, 15 de junho de 2009

Eletrodoméstico

– Manso e mediano, caminho humilde em busca de luz e ar puro, da verdade definitiva e consoladora, intestinal e doméstica – mas de todos os eletrodomésticos que me relacionei até hoje, foi o liquidificador o mais encantador – talvez pela sua simplicidade de uso e valor simbólico – não se trata aqui de nenhum tipo de ‘fetiche cyberpunk’, um pouco fora de moda, mas sim um certo orgulho animal-humano civilizado de beber doze vitaminas essenciais e sentir o sabor de tudo ao mesmo tempo agora – oral, verbal – é neste e só neste momento que se revela o erotismo da coisa – em meus escritos enlatados = coisas, circulares e, pretensamente, bem costurados, revelam-se incertezas éticas e fascinações estéticas, vícios, ou melhor dizendo, ideologias – nascidas sempre de ressentimentos que, em uma análise mais calma, nem a mim pertencem de fato, na maior parte dos casos – por isso esqueço por um tempo as laminas e concentro-me nas vitaminas – esqueço as teses e as conclusões e concentro-me nas ‘ciências ocultas’ da arte – por algum tempo – e, entre tantas teorias que se fundem, se confundem e se anulam – entre tantos ‘ses’, fico com a beleza plástica e meditativa das palavras, talvez nelas residam algumas verdades – por algum tempo –


Ariel

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