quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Piloto Automático

André Lucato


O hábito não faz o monge, mas faz, sem dúvida, o tédio, o vazio, e me faz escrever por escrever no piloto automático, firulas e pérolas e recortes sem alma. Qualquer coisa que me leva do nada a lugar nenhum. Há tantas maneiras de não dizer nada. Escolho aqui a mais adequada. Quando se está apaixonado, tudo parece fazer sentido. Mas o amor é mal educado. Chega e vai, sem pedir licença, sem dizer obrigado. Num mundo onde tudo é calculado, o amor é espontâneo, porém, caótico, imprevisível. Não me venham com frases feitas, hoje não. Já bastam as minhas! Não se trata de sofrer por antecipação. É que só a paixão legitima o ridículo de acordar todos os dias no mesmo horário e fazer as mesmas coisas e rir das mesmas piadas prontas. Só a paixão justifica viver num mundo sem pontos, nem vírgulas, deselegante, onde já não é possível distinguir com tanta clareza entre porcos e homens – de boca fechada são quase iguais –, e os espíritos mais nobres encontram-se cansados. Frases feitas? Hoje não. O que não mata, deixa sequelas e enfraquece o coração.

Ariel Pádua

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