segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Teologia

André Lucato


Ian voltou de sua introspecção sagrada e profana, breve e eterna, e num estalo, levantou-se, bebeu um café preto, forte e doce, tomou um bom-banho e saiu, mais ou menos, sem destino. Era um dia de sol, sábado, salgado, vivo. Primeiro passou na casa de uns velhos amigos recentes, mas não achou nada. Andou e respirou e sentiu-se só e sentiu-se bem; arejado, forte como uma árvore, livre como um pássaro e as horas passavam, e, para preencher as horas passou na casa de um-certo-alguém. Era caminho, e no desenrolar das horas e das emoções, Ian descobriu que podia ficar invisível e, de óculos escuros, viu o mundo com olhar de fotógrafo, cineasta, e, entendeu a beleza e a leveza do agora. Com Teo, foi andar no cemitério, um museu de vidas: curtas, longas, públicas, privadas. Ian abraçou Teo com amor. Encostados numa grande árvore, de imensas raízes, ficaram ali, algum tempo, contemplando a paz do silêncio, quando, na hora certa, Teo disse: podemos voltar, amor? Ian, num estalo, jogou o maço de cigarros, prometeu virar vegetariano e trocar de emprego. Teo prometeu começar uma nova dieta na segunda, ler mais e falar menos, mas isso não disse, apenas pensou.


Ariel
.

Nenhum comentário: