quinta-feira, 2 de julho de 2009

Jezebel

Jezebel não era mulher de deixar nada por menos. Carregava nas costas séculos de escravidão. Por isso queria sempre mais. Sabia que se não fosse a melhor, não seria nada, absolutamente nada. É que Jezebel era de família pobre e ignorante, gente sem berço, cá entre nós. Jezebel não tinha mesmo pra quem puxar e não puxava o saco de ninguém. “Eufemista, pai, eu sou eufemista, uma mulher pra frente, sabe?”, dizia sempre. Jezebel era uma mulher apaixonada, cheia de vontades. Deixou Recife com quinze anos e foi pra São Paulo ser “artista”, assim dizia seu pai aos amigos mais chegados. E, ao chegar na Terra da Garoa, a garota virou mulher de vida difícil. Até que um dia juntou um bom dinheiro e montou o seu próprio negócio: uma loja de produtos religiosos e esotéricos (macumba, cá entre nós), “essas coisas do Demo”, diria seu pai, que era crente, se fosse há vinte anos atrás. Mas o dinheiro perdoa tudo e seu pai, nos últimos dias da vida, ainda se vangloriava de ter uma filha “microempresária”.


Ariel Pádua

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