segunda-feira, 13 de julho de 2009

Trama

O pequeno lobo desfila na noite vazia vigiado pela lua. Às vezes o pequeno lobo cai nas próprias armadilhas quando inventa um mundo só dele, perfeito, onde só cabe um personagem. Talvez um fantasma. E, como se sabe, o personagem não é criado pelo sonhador. Todo sonho já foi sonhado e o povo interfere na trama. O público fere a trama e fere o pequeno lobo. Mas o pequeno lobo tem o sol de dia e a lua de noite. A lua é pra sonhar, o sol esquenta o coração. Não é preciso trocar de fantasia. Não é preciso trocar um deus por outro de nome mais exótico. O desapego é necessário. A sonoridade, fundamental. O pequeno lobo fareja. Sente cheiro de sangue, carne, cerveja, cigarro e perfume. Sente cheiro de gente, vulgar e sublime. O pequeno autor de pequenas histórias mal contadas cai em si. E sorri. E o coelho foge, assustado, olhando para sempre no relógio. E o pequeno lobo transforma sua dor em doce de leite. E derrete, derretido e acorda mais vivo.


Ariel Pádua

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"E a autoridade, ao seduzir as pessoas a se conformarem, cria e alimenta uma espécie muito grosseira de barbárie."

Oscar Wilde


Um comentário:

Clara Tadayozzi disse...

suas palavras são as poucas que, por instantes eternos, me retornam a magia do mundo, que em algum momento infeliz perdi dentre a maldade e frieza dos seus transeuntes.