A Geração MP3 já não tem heróis porque atingiu o nível 6 do Individualismo. Uma idéia por dia, um ídolo por semana, uma ideologia por mês. Ainda restam, é claro, alguns resquícios do Cristianismo e da Pop Art. Mas a tendência... A tendência é tudo virar tendência. Tendências sem finalidades. Sei que faço parte de um seleto grupo de predestinados. Mas que glamour há nisso? Se este grupo não tem nada a dizer e diz por insônia ou narcisismo. Excluídos bem escolhidos como feijões podres que olham para as rugas das paredes mal pintadas das suas casas pobres. Os bobos da corte que dela não fazem parte. Por isso levantam o tapete e espalham toda a sujeira. Do Pó viemos, ao Pó voltaremos, mais tarde, àquele rio da Itália, um dia, quem sabe. Talvez seja tudo uma questão prática. Peeling, yoga, comida natureba, meditação e vida eterna agora. O Amor, a gente protela. A Política, a gente protesta por protestar. Quando sai um Sarney, entra outro com mais sarnas. Sanguessugas. Só resta celebrar a Glória de estar vivo. Rir e chorar e às vezes se dar ao Luxo de não sentir Nada.
Ariel Pádua
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quinta-feira, 30 de julho de 2009
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Queda Livre
O caminho não se altera. A raiva é necessária e passageira. O que poderia ser e não foi. O que foi e não foi. Foi. A lua continuará brilhando como um queijo gigante criando desejos além do próprio homem. O amor, a prisão, a família: só há vida onde há liberdade. A verdade não dói. É mentira. A verdade cura. Basta usar o dom da atenção sem sair do tom. A verdade, claro está, é, tão-só, uma opinião: convincente, confortante e bela. O mundo pode parecer, em certos momentos, um jogo ou uma brincadeira de mau gosto. Prazer e gozo. Mas a vida não deve ser prazer, nem sofrimento. Deve ser intensidade e busca de paz e perfeição que são somente encontradas no próprio peito. E quando os monstros voltarem: expulse-os com uma gargalhada! Em cada sorriso vive um anjo. Em cada risada tem uma criança.
Ariel Pádua
“O passado é o que o homem não deveria ter sido. O presente é o que o homem não deve ser. O futuro é o que os artistas são.”
Oscar Wilde
Ariel Pádua
“O passado é o que o homem não deveria ter sido. O presente é o que o homem não deve ser. O futuro é o que os artistas são.”
Oscar Wilde
terça-feira, 21 de julho de 2009
Meditação
Sitiado e situado no vão do esforço de escapar das diárias tentações, tento traduzir em palavras, pensamentos vaidosos, nunca inteiramente entendidos, mas sempre condenados ou elogiados. Um olhar, um sorriso, uma cara de poucos amigos, um nó na garganta: imagens, magicamente assimiladas. As palavras, elas causam embaraço, são arrogantes, previsíveis. Quando saem da boca já não são mais minhas, nem suas, são do mundo e soam banais. Porque elas passam pelo intelecto e quando são interpretadas são rapidamente distorcidas pela “razão”. As imagens, pelo contrário, são engolidas pelo instinto e jogadas no fundo da consciência do “homem”. Por isso, não há como competir com as imagens. Os livros são sagrados porque ninguém lê. O mundo se parece mais com um palco e os palcos mudaram o nosso mundo. A igreja, os palanques, a ópera, o teatro, o cinema, a televisão: palcos da arte do impacto popular que move o planeta. As palavras são em essência pequenos desenhos com sons e significados. Muitos significados. Mas a imagem da bola é a mesma pra todos. Logo, todas as teorias complexas e supostamente bem estruturadas parecem bobagens hipócritas quando contrastadas com os apelos e as selvagerias da vida “real”. Um minuto de silêncio.
Ariel
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Ariel
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sexta-feira, 17 de julho de 2009
Dislexia
Escrever é solitário e solidário. Provavelmente alguém já disse isso, o que não me impede de dizer novamente. Solitário para quem escreve. Solidário para quem lê. A arte deve ser bela. Pode ser digestiva ou embaralhada. Mas o resultado deve ser mágico, encantador. O processo, obviamente, sempre parte do tédio em direção às estrelas. É tudo isso junto, misturado, batido e bebido como um suco e depois esquecido ou transfigurado. Vamos à pequena história de Beatriz. Seis semanas que não saia do quarto. Pela janela, Bia via, carros e pessoas, imagens meramente ilustrativas. As pessoas com as roupas da estação. Lá fora, era o eterno bate-estaca. Ações controladas pelo deus-dinheiro que guia esta caneta Bic e transforma tudo em papinha de bebê. O deus-dinheiro que esmaga a arte e fode a Bia todo dia. De maneira, que a moda é mais um modo de modelar a massa. Beatriz despreza o mundo, a moda, a massa, a mentira e toda maldade que não seja sincera como a das crianças. Trair o mal é honestidade. Não sei o que faço com Bia. Talvez ela corte os pulsos. Talvez controle os impulsos e vá viver lá fora com a roupa da estação. É por isso que este texto vai ficar no zero a zero.
Ariel Pádua
Ariel Pádua
segunda-feira, 13 de julho de 2009
Trama
O pequeno lobo desfila na noite vazia vigiado pela lua. Às vezes o pequeno lobo cai nas próprias armadilhas quando inventa um mundo só dele, perfeito, onde só cabe um personagem. Talvez um fantasma. E, como se sabe, o personagem não é criado pelo sonhador. Todo sonho já foi sonhado e o povo interfere na trama. O público fere a trama e fere o pequeno lobo. Mas o pequeno lobo tem o sol de dia e a lua de noite. A lua é pra sonhar, o sol esquenta o coração. Não é preciso trocar de fantasia. Não é preciso trocar um deus por outro de nome mais exótico. O desapego é necessário. A sonoridade, fundamental. O pequeno lobo fareja. Sente cheiro de sangue, carne, cerveja, cigarro e perfume. Sente cheiro de gente, vulgar e sublime. O pequeno autor de pequenas histórias mal contadas cai em si. E sorri. E o coelho foge, assustado, olhando para sempre no relógio. E o pequeno lobo transforma sua dor em doce de leite. E derrete, derretido e acorda mais vivo.
Ariel Pádua
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"E a autoridade, ao seduzir as pessoas a se conformarem, cria e alimenta uma espécie muito grosseira de barbárie."
Oscar Wilde
Ariel Pádua
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"E a autoridade, ao seduzir as pessoas a se conformarem, cria e alimenta uma espécie muito grosseira de barbárie."
Oscar Wilde
sábado, 11 de julho de 2009
sexta-feira, 10 de julho de 2009
quinta-feira, 9 de julho de 2009
Café com saudade
Eu te devia isso. E, nesta manhã, tomando o bom e velho café, a saudade bateu. E bateu muito forte. Lembrei do nascimento de uma amizade. Poucas amizades nascem, crescem e florescem. Normalmente, as pessoas surgem prontas, embrulhadas para presente. Mas com você foi diferente. Fomos quebrando os espinhos aos poucos. Começou naquela aventura infantil e maravilhosa chamada Floripa. Foi lá que você aprendeu a me respeitar. Rio Preto, apezinho do Higienópolis: a amizade se fortaleceu entre nossos “cafés filosóficos”. Por isso, nesta manhã, a saudade veio muito forte. Finalmente, em São Paulo, veio a Consolação. Eu não sei o que seria de mim, sem você, naquela selva. Não importam os seus motivos, foi tudo muito intenso e caótico pra todos, eu sei, mas era você que estava alí comigo, rindo das minhas palhaçadas, me botando pra cima quando o mundo inteiro dizia que eu não era nada. Era você que estava ali comigo, e é só isso que importa. Por que as verdadeiras amizades não surgem do nada, embrulhadas para presente. As pessoas são rosas. Tem que saber onde tocar, como segurar. Se não, é sangue e saudade.
Ariel Pádua
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Dedicado à Mariana Menezes.
Ariel Pádua
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quarta-feira, 8 de julho de 2009
Gato Escaldado
O relógio do computador marcava quatro da tarde, quando Lucas decidiu pedir demissão. Era um bom funcionário e ganhava bem. Mas já era tempo de voar. Dona Iolanda não se conformava: a distância, os perigos, os motivos. Nada fazia sentido. Seu passarinho ia voar sozinho. Pra longe dela e pra mais perto de si mesmo. Lucas escolheu Goiânia, a cidade não importava, só queria sair dalí e viver uma outra vida. Iolanda chorava culpada. Equivocada. As pessoas são assim, Iolanda, nunca estão satisfeitas. O dinheiro acabou e Lucas voltou. Quebrado, escaldado, mas cheio de estórias pra contar. Abandonou de vez a Terapia e foi fazer Yoga. Lucas já não cabia na carinhosa gaiola de Iolanda. Foi morar com um pessoal aí, outros Lucas, iguais a ele. Até que encontrou uma passarinha e foram bater asas pra outras bandas. Dessa vez, Brasília, foi idéia de Lucas. Voltaram, dois anos depois, pra cuidar da Dona Iolanda. Lucas era jovem, vinte e sete, mas tinha cem anos no olhar. Era fiel à liberdade e ao seu grande amor: Iolanda.
Ariel Pádua
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Ariel Pádua
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terça-feira, 7 de julho de 2009
Quinta A
Joana abusava dos decotes. Sentava na primeira carteira para sentir-se a primeira. Em casa, era a irmã do meio. Mas na classe era a primeira. Logo atrás dela, sentava um gorducho com cheiro de remédio. Todo mundo queria ser a Joana, sentar na frente, apagar a lousa, a bela letra, os decotes... Só Joana não queria ser Joana. Joana queria ser homem, mijar em pé, jogar bola, andar de skate com o irmão mais velho e jogar Atari com o mais novo. Mas a casa nunca foi dela. Joana só era Joana no colo do pai e na beira da pia. Por isso, ia orgulhosa pra escola, onde reinava. E, naquele ano da Quinta A, mesmo sem saber, todos, sem exceção, queriam ser a Joana: o rebelde mimado das calças rasgadas, o pretinho repetente, o gorducho com cheiro de remédio, a garota de óculos da boca roxa, o menino afeminado que sempre sentava perto da porta. Todas e todos.
Ariel Pádua
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Ariel Pádua
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segunda-feira, 6 de julho de 2009
Bicicleta Quebrada
Assisto de camarote à futilidade trágica da vida e aos fogos-de-artifícios. Cumpro meus deveres sociais e vivo meu tédio com a dignidade que me foi apresentada. Eu sei, não passar assim tão rápido. Não é só apertão um botão. Foi um furacão. Melhor sair da cidade, esquecer a minha idade e ficar sem bicicleta. A solidão tem o seu preço e o seu prazer possível. Não quero atingir o Nirvana e dar um tiro na cabeça. Prefiro a vida comum e feliz da Julia Roberts. Fale baixo, os vizinhos podem escutar. Vai passar, eu sei, e eu poderia enfeitar este texto com palavras cheias de esperança. Mas não seria honesto hoje. Nada de horizontes e distrações. Só uma parede branca, descascada.
Ariel
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"A minha pergunta será portanto tão simples como as minhas análises: há limites para a indignação?" - José Saramago
http://caderno.josesaramago.org/2009/07/06/critica
quinta-feira, 2 de julho de 2009
Jezebel
Jezebel não era mulher de deixar nada por menos. Carregava nas costas séculos de escravidão. Por isso queria sempre mais. Sabia que se não fosse a melhor, não seria nada, absolutamente nada. É que Jezebel era de família pobre e ignorante, gente sem berço, cá entre nós. Jezebel não tinha mesmo pra quem puxar e não puxava o saco de ninguém. “Eufemista, pai, eu sou eufemista, uma mulher pra frente, sabe?”, dizia sempre. Jezebel era uma mulher apaixonada, cheia de vontades. Deixou Recife com quinze anos e foi pra São Paulo ser “artista”, assim dizia seu pai aos amigos mais chegados. E, ao chegar na Terra da Garoa, a garota virou mulher de vida difícil. Até que um dia juntou um bom dinheiro e montou o seu próprio negócio: uma loja de produtos religiosos e esotéricos (macumba, cá entre nós), “essas coisas do Demo”, diria seu pai, que era crente, se fosse há vinte anos atrás. Mas o dinheiro perdoa tudo e seu pai, nos últimos dias da vida, ainda se vangloriava de ter uma filha “microempresária”.
Ariel Pádua
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Ariel Pádua
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quarta-feira, 1 de julho de 2009
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