domingo, 19 de dezembro de 2010

Cobaias


A sociedade de consumo, na era da vida midiática, coloca a pessoa humana na condição de personagem de um suposto eu, real, representando uma tragédia contemporânea, ventilando no tempo e no espaço, em órbita, personagem neutralizado por um determinismo da ordem das imagens e da sedução.

Na sociedade do espetáculo, cada minuto da sua atenção vale ouro, mas você não vale nada como indivíduo, apenas como consumidor. Cidadão é apenas um nome elegante para consumidor. E é por essa razão que o “mercado” tenta enquadrar as empresas no modelo “socialmente responsável”. Trata-se de uma manobra do sistema para dizer a si mesmo: “o cidadão é mais relevante que o consumidor, o consumo é uma consequência da vida”. Não. O consumo é criado, inventado nos estúdios e laboratórios. Tribos são criadas em revistas. “Estilos de vida” são definidos por marketeiros e economistas. E as cobaias, somos nós.


ARIEL PÁDUA

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

True Blue




Sentir carinhos conhecidos
No fundo, sonha
E no fundo, esconde
Bem longe
O que nunca poderá
Ser no fundo

Nenhuma gota de chuva
Molhará o veludo azul
Hoje, nada me fará blue

Ligue-me a TV
No canal 2
Por favor, é hora da novela
Hora de ver velhas atrizes
Plastificadas, botocadas
Elas mesmas, enfim
Em algum apartamento elegante
Do Leblon, ao som de uma bossa

Velha. Amanhã, estarei novo
Pronto, de novo, pra sentir
Seus carinhos, falsos, estrangeiros.

ARIEL PÁDUA

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Esquerda


Sou aquele que decifra teu sorriso. Aquele que quase te ama. Que quase te cura. Quase te abraça. E os sons do teu ser me atravessam como ondas. E continuo sendo. Ciumento. Exilado. De cimento. Atrás do que eu poderia ser se. Ou festejando, me despedindo com festa. Enquanto o lado direito do meu cérebro cria e se importa, do lado esquerdo do meu peito bate um coração intimidado, orgulhoso, cheio de tudo, até de amor. Cheio de uma certeza apontada para o lado de lá.


Ariel Pádua

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

lábios leves

olhos brilhantes
de aço cirúrgico
apertam o amanhã
contra a parede

deparo com as partes
do todo embaralhado
como um sonho
desconexo

faço retratos camuflados
da situação
embaraçosa
chamada vida,

um sol chamado deus
um planeta líquido
chamado terra

devo citar o amor
feito de morangos maduros
bem doces & prontos para
morrer

devo citar nessa hora
a estrela que acreditou
na cartomante
pra ser feliz

ariel

quarta-feira, 7 de julho de 2010

caracteres

dum jeito só meu
prosaico rabisco crenças
té botar no papel
toda vida já foi
dissolvida

num copo num corpo
único e duplo

como perceber objetos
de desejo dizer dizeres
sim não obrigado
passa semana que vem

dum jato só ir
do pensamento à
ação já tão cúmplice
da emoção

seja ela o sereno
suor da cidade será
sempre uma casa
espelhada


ariel

domingo, 4 de julho de 2010

Débito Automático

A burguesia, com todo o seu padrão de comportamento e força criativa, poder de sedução e necessidade de constante inovação – muitas vezes substituída por um simulacro de novidade –, é mais que encanto, é vital para o sistema de trocas monetárias, ou se preferirem, digitais.

Pensamentos letais: ligar a TV ou bater um bolo? Talvez, o bolo primeiro e a TV depois. Dá nos nervos nego, dá nos nervos esse show perfeito mecânico, messiânico, equalizado, padronizado, neutro e cínico. É o show do marketing (político) e sua venda desenfreada de ideais de felicidade.

Mas a grana precisa, sobretudo e sempre, da imaginação, da abstração, da tela em branco, da falta de explicações, do mágico, do religioso, do encantamento. Assim como o luxo precisa do lixo, amigos inseparáveis.

Todos querem se livrar do lixo, mas ninguém quer perder o luxo. Ou, melhor dizendo, ninguém quer perder. Mas todos perdem. Trata-se de uma operação sistemática de subtração. E o resto do resto, é o espetáculo do espetáculo, ou seja, as cinzas.

Ariel Pádua

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Microondas

Cobrava explicações
Coerentes

Daquela noite branca

Nada restou na manga
Nenhum coelho na cartola
Enquanto rostos cansados
Dormiam tranquilos

No coração da tarde

Sonhavam
Voavam
Viviam

Essas pessoas espertas seguras convincentes
Ou simplesmente
À altura
De uma metralhadora

Nuvens de som
Se formavam num céu instável
Contra um azul perfeito
Da cor do amanhã

O inverno era opaco e precipitado
No entanto era terça dia de pagar
A luz
E as horas eram horríveis

Ariel Pádua

“Ou, se preferirem, há emoção quando o mundo dos utensílios desaparece bruscamente e o mundo mágico aparece em seu lugar.”

Jean-Paul Sartre

terça-feira, 8 de junho de 2010

Fome de Beleza


Tênis branco, calça vermelha, jaqueta marrom, cabelos e olhos castanhos, maravilhosamente comuns.

Fedia a cigarro, os joelhos ralados, a risada boba, o ar de reizinho.

“A burguesia transformou todos em pequenos burgueses” - disse, do alto da sua beleza adolescente.

Beleza radiante, quase prepotente, com ares de estudante francês.

Enquanto gelos gigantes derretiam morbidamente em copos de caipirinha...

Irã descrevia seu tédio com todas as metáforas pobres que sabia.

Ele não estava entre os vinte meninos mais inteligentes da Califórnia, mas sua euforia tinha gosto de vida.

Um dia, contou a história de Wanda: “Era uma neguinha manca, daquelas que fediam a perfume duvidoso. Parisiana!, chamava o tal perfume...”.

Do banheiro – com a porta aberta – eu ouvia a história engraçada e maldosa, antes de apertar o botão da descarga.

Pensei, fechando o zíper, que o amor – única palavra sem sinônimo – bota o tédio abaixo de zero e arranca o homem do seu aquário.

E a beleza, essa só vale, se for roubada para ser habitada.

Ariel Pádua

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Coleção


Página 57, percebeu que o livro tinha profundidade, alguma alma, certa originalidade, possíveis dimensões sociológicas, mas era chato, bem chato.

Cada palavra, mal colocada, tinha uma sombra com vida própria. Tudo devidamente coberto por poeira.

A mala era pesada como sua vida. E como um gato, de pé, com fé, lambia as próprias feridas.

Será que vai chover? Até quando Israel usará o passado e o cinema para justificar o presente? A dor branca dói mais?

Enquanto Thor latia carente e pardais caiam duros do céu azul-céu como meteoritos...

Bichas suburbanas, chineses, putas, ciganos e corretores de seguros celebravam o Dia do Trabalho.

Todos procuravam um milagre representado quando o real é fantástico demais para ser verdade.

O álbum de figurinhas da Copa fervia, ao sol, no banco de trás do Fusca laranja.

Latia Thor, carente, para pequenos garotos que sorriam malvadinhos com seus estilingues improvisados.

Sombra de mim, caricatura quase cicatrizada, fechei o álbum incompleto, botei na terceira gaveta.

E dormi sem respostas.

Ariel Pádua

quarta-feira, 26 de maio de 2010

corriqueiro



papoproar condicionado a engolir sapos e mentiras sempre evito sem sucesso a primeira pessoa do singular calçado como com os olhos como aquela noite os cadarços coloridos no plural afinal circular preciso de rimas mais finas metáforas mais desaforadas menos óbvias no próximo possível poema se não vão saber que eu não tenho mesmo nada a dizer assim divertido talvez eu faça sentido fragmentado desviando de formigueiros civilizados roubando livros de autoajuda


ariel

sexta-feira, 14 de maio de 2010

O Bruxinho Adolescente


Ele era querido por todos. O bruxinho adolescente dos anos 80/90. Zerou Supermario 8 vezes no Phantom System. Era fã de Madonna, Lenny Kravitz e Radiohead. Meio loiro assim do cabelo queimado tipo surfista, mas sem aquela pegada, era meio nerd, surfista de butique e já morou em Floripa até.

João Lucas, tinha nome comum, nome composto, nome de dois santos, mas de comum nada tinha. Era o cara. Seu quarto cheio de pôsteres e coleções de tudo que não tem utilidade. Aparentemente comum, clichê. Mas, admirava Pasolini, Almodóvar... Achava meio nada a ver jogar basquete, odiava a Globo e acreditava em conspirações. Depois, meio que acostumou, aceitou a vida, a Shakira, o Ricky Martin, k-k-k.

Beijou as mãos de sua mãe, logo ao acordar, e pensou em coisas da vida, coisas da mídia: qual o sentido de torcer pro Palmeiras, gente? Qual a proposta?$!%#

Sua idade, 15 e meio. Quase já podia votar. Era quase já um lobisomem americano. Brasileiro. Acreditava em Deus. Na Mãe Terra. No Bill Clinton, no Bill Gates, na Ruth Cardoso... Só não acreditava em si mesmo. Cheio de espinhas, complexado, tímido, (invisível).

Em cada lágrima de cafeína, sentia gosto de chuva, enxurrada, gripe, escola, piolho... A infância ia embora, junto com a caixa de brinquedos da Estrela, o Phantom System e as coleções que não combinavam com a nova decoração da casa. Dona Vera, chamou um arquiteto de nome na cidade, o mais medíocre e mais rico.

João Lucas só fazia cursinho e pensava no jeito mais fácil de sair de casa pelo elevador social. E voltar, só pra se mostrar, cheio de histórias, como um vencedor, como nos games: matar o chefão e passar de fase.

Cafona, sonhou com marte, tipo um filme B ou um clipe da Britney Spears, caminhava em marte. Na terra vermelha, árida, deserta, como a vida ia ser pra sempre.

GAME OVER

Ariel Pádua

terça-feira, 4 de maio de 2010

Foto Síntese

Cansado, vazio e quase feliz, João acendeu o cigarro proibido – fugir do tédio insípido, inodoro, incolor, onipresente, onipotente e, quem sabe, onisciente. O tédio, companheiro, junto da pinga e do cigarro proibido. Todos os sentimentos, João sentia. Nem todos entendia. Não entendia era nada. Seguia sua vida, predestinada. E, aos vinte e sete anos do segundo tempo, João não sabia pra onde ia. Não entendia a própria história, não lembrava de piadas. Desaprendeu a sorrir, desaprendeu a amar. João tudo sentia, tudo era, nada sabia. Seu coração vagabundo guardava o mundo. Na hora de dormir, abraçou o travesseiro com as pernas, de lado, na cama, como um feto. Metade das pernas cobertas, leve lençol, suave sensação, proteção... Neste dia, algum dia na vida de João, o calor era considerável, mas de ventilador não gostava. E, para finalizar o ritual – bobo, banal, profano, possível, secreto, sagrado – macarrão e meditação. De barriga cheia e cabeça serena, dormiu gostoso, a velha criança e acordou amanhã/ontem/hoje. Era preciso acordar, fazer coisas, sentir-se útil como se viver fosse quebrar nozes. Estúpido e frenético, sim, estúpido e frenético como um rato esportista em busca de um queijo impossível. Pois era no seu relativo ócio que a criança crescida criava, voava, voltava e sentia-se um alguém tendo o mundo como mestre. Às vezes, saia só, no sol, suava, sorria. Sentia a vida mais viva, às vezes. Mas a hora é nossa senhora e a semana tem sede. Então, sem olhar no relógio, foi pro escritório, a criança crescida, o rato estúpido. Café, piadas previsíveis, tudo de novo. Tudo tão velho. Na tela, o impossível queijo. No céu, o possível sol, ardendo, queimando, brilhando.

Ariel

segunda-feira, 26 de abril de 2010

sol, lá, si, dó

e há quem procure um si, um lá, um dó. quando o que precisam, realmente, é de um sol.

que por sol encontrem diversas denominações. mas que deixe de ser tão clichê pra procurar um vão alguém.

que seja a sua própria fonte, que se baste e acima de tudo, que não perca a sua função. teu lar também pode guardar música, perceba.

nicolas dantas

sábado, 24 de abril de 2010

Cabeça de Rádio

Revoltado como quem é acordado de um sonho perfeito, o menino procurou os cacos embaixo da mesa quadrada. Quatro patas, no chão, destreinadas. Revoltado, procurou um refrão que consolasse seu coração ferido. Então abriu o seu livro preferido, em qualquer página. Todas diziam o que ele sabia. E, naquele dia, não queria surpresas. Só queria o familiar. Qualquer coisa parecida com barulho de chuva e colo de mãe. Leu duas ou três frases. Sentiu o mundo um pouco mais doce. Olhou-se no espelho. Cansado, fez o sinal da cruz, para, em seguida, beijar levemente a ponta dos dedos. “Om” – cantou de si pra si. E sentiu paz, sentiu amor e outros sentimentos sem tradução, perfeitos e eternos. Foi assim que, nesse dia, o menino rebelde se refez e, novamente, voltou a sorrir.

Ariel

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Bichinho da Maçã

Cada dia que passa, sei menos do mundo e mais de mim. Gafanhotos no jardim, evasivos e frenéticos, como os chineses.
Só posso falar de mim
Nesse pedacinho de mundo.
Então, falo o que quiser.

Se doar sem doer.
Se amar sem querer querendo
Como um romântico de bigode e nome composto,
Refaço-me-acompanho-me-recomponho.

A cada palavra,
A cada gesto,
A cada mordida
Na maçãzinha, ainda verde,
Chamada de amor.

Ariel

segunda-feira, 12 de abril de 2010

APARTAMENTOS

Andy Warhol - Marilyn Monroe

Em menos de três meses, Caio mudou de casa, cachorro, crenças, estratégias, no entanto tudo continuava aparentemente igual, externamente, enquanto sua mente rodopiava num mar de ilusões.

“Não há como fugir das possibilidades. Que venham as possibilidades”. O possível é a representação do real. Então, tentou ser possível, viável, passível de erros, porém perfeito em sua busca não linear.

Assim era mais um homem jogado na rua, mais um prato de sopa, enquanto algumas omeletes batiam sem sentido nos apartamentos ao som de uma “nova Madonna”.

E aí, só ouviu os gritos dentro de si, fracos gritos. E sonhou que existia.

Lady Star tocava pra sempre em seus ouvidos radiofônicos, televisivos, disléxicos – e invadia sua cabeça de rádio de trinta anos e pais separados. E sua FM particular se fazia entender a todos os ouvidos que queriam ouvir: golfinhos, carinhos, morcegos, bandidos, macacos e telefonemas.

Voltou pra sua história recortada como contos de Caio. É que no fundo, nenhuma história acaba. Só começa outra etapa. Outro degrau, outra escada. Então, Caio escolheu o caminho alegre. “O caminho alegre, sereno, o caminho do amor, é obviamente, a direção certa.” – pensou.

E lá foi Caio, caindo, voando, atravessando portais para o Nada.

De quando em quando, entredevorava-se em suas contas e conotações sobre o futuro. Depois acordava do simulado sonho. Sabia que, na verdade, só buscava a Paz.

Ariel Pádua

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O Equilíbrio


A agressividade necessária pra viver é natural/mente culpada pelos dez-encontros, pelo sofrimentumano (me foi permitido sonhar, então sonho, me foi permitido permitir, então me permito ser redundante, previsível, pesado, dens... super interessante? sim-sou) e, pela vontade de ir pru céu cedo ou tarde chegar em casa num dia de chuva chorar lágrimas de cafeína, pretazazeitonas, tomar banho quente colo de mãe de leite canela sebo nelas passo por cima de mim pra brilhar!, autoflagelo de luz negativa e machista (saio voando da frase...) é a língua portuguesa sem cerejas. Sem certezas. Me pego despregado neste ponto. Pois, é quando tento ser mais, ou imagino ser menos, do que sou, que, imediatamente deixo de ser Deus.

Ariel Pádua



Não sei se corro junto ao leopardo
Não sei se aceito a dança
Do carrossel

Vanessa Cornélio

sexta-feira, 26 de março de 2010

Achismo Científico

Foto: Vanessa Cornélio

Gosto de acreditar em belas palavras. Nas minhas próprias que, muitas vezes, coloco no papel, ou melhor, na tela. Mas ela vivia na dela. Não me dava trela. Não me dava tempo de ser quem eu era. Logo eu? Eu que sei muito bem que não existe mulher de vida fácil e que malandro só se fode.

Malandro é malandro, Mané é Mané. Mas, Mané se dá bem no futuro, malandro! O presente é dos malandros, o futuro dos Manés. Não dá pra cortar caminho impunemente, entende? Mais cedo ou mais tarde, a gente tem que voltar naquele ponto onde tudo parecia somente uma questão de escolha.

Ridículo! Como posso escolher o que não conheço? Por acaso tenho bola de cristal? O que posso fazer é chutar, a bola pra frente, de preferência. E não a bunda de alguém! Chute intuitivo e não uma decisão racional. Voltar lá atrás, às vezes, é correr lá na frente.

Não existe ciência que não seja humana. Não existe humano que seja perfeito. A perfeição é um ideal a ser buscado. A razão é um achismo científico. É um abismo entre o homem e ele mesmo. Entre o bicho inteligente e sua própria natureza.

Ninguém nunca optou por ser negro, gay ou nordestino. Ninguém nunca escolheu nascer lesma. Somos o que somos e tem certas coisas que a gente tem que viver com elas. Ninguém passa de ano sem prestar exame. Ninguém chega ao amor sem passar pela dor.

O livre arbítrio também é um ideal que vive no mundo da intenção. E a intenção vale tanto, ou mais, que a ação, porque a vida é um sonho. Então, por via das dúvidas, daqui em diante, vou rimar tudo com flor e ter sempre a precaução de jamais jogar sal nos sapos.

Ariel Pádua

quinta-feira, 25 de março de 2010

Desafiar, e não evitar

Andy

O budismo, assim como as outras religiões, ensina às pessoas como viver para conquistarem uma vida feliz. No entanto, muitas religiões encorajam seus crentes a orarem para que algo místico, uma força transcendental, elimine os problemas da vida. Então, se as pessoas são religiosas ou não, também tentam com frequência evitar as dificuldades e os problemas.
O budismo mostra o caminho para uma nova vitalidade e uma profunda sabedoria, ensinando que os seres humanos devem inspirar-se a desafiar, e não a evitar, quaisquer dificuldades que enfrentarem e transformá-las em felicidade com o desenvolvimento de sua própria força vital.
Superar o sofrimento em vez de fugir dele é uma atitude criativa de desafio e coragem, e é essa atitude que leva à felicidade absoluta.
Fundamentos do Budismo
Editora Brasil Seikyo

quarta-feira, 24 de março de 2010

É por isso

A amizade é o tipo mais nobre de amor. Os verdadeiros amigos nunca te julgam. É por isso que o amor-amigo tem que vir antes do amor-amor.

A.

sábado, 20 de março de 2010

Grau Zero

Arte: Vanessa Cornélio

Meu discurso é solto e compromissado só com o ato de escrever. Quem sabe, eu faça parte de um movimento desorganizado, contudo sintonizado numa estação de poderosa frequência.

Pensar nada, sentir tudo. Entrar e sair, livremente. Talvez seja mais prudente. Senhas, sonhos e sinas. Até chegar ao grau zero, zilhões de Zecas e zicas. É como nadar e nadar e morrer na praia.

Melhor só sentir as braçadas, sentir a vida, sentir cada ferida abrindo e fechando. Ter coragem pra ser só mais uma folha, voando em qualquer direção, contanto que leve a si mesmo.

Ariel Pádua



"Nine out of ten movie stars make me cry, I'm alive."
Caetano Veloso

quinta-feira, 18 de março de 2010

O Amor


O amor é um ato de fé e um exercício de paciência, com o outro e com si mesmo.

O amor – palavra abstrata, abrangente, genérica e, hoje em dia, banal e desacreditada –, é basicamente: fé e paciência combinadas com reciprocidade e cumplicidade.

O amor é uma entidade invisível, como Deus. Só existe pra quem acredita. Só funciona pra quem acredita. É sonhar de olhos abertos. É dormir sem pesadelos.

O amor pode ser só uma palavra empoeirada para quem não tem imaginação. Quem ama acredita. Simplesmente acredita. Em anjos, seriados e Julia Roberts.

O amor cura quem se curva diante dele.


Ariel Pádua

Sonâmbulos Anônimos

Ilustração: Daniel Araújo

Nem um estado me possui pois o estado sou eu num estado de coisas instáveis.
Nenhum estalo me acorda do sono perfeito e certo que é o destino.
Sem saco pra tudo que me desconsola sonâmbulos anônimos vivos miseráveis.
Cem tacos cegos jogados num aconchegante espetáculo ambíguo.

Quer saber bem me quer mal me quer.
Quer saber nada.
Quer saber venha o que vier.
Quer saber chega.


Ariel Pádua

terça-feira, 16 de março de 2010

Gritos Abafados

Foto: Vanessa Cornélio


Tolos desesperados. Já faz tanto tempo! Olhos dissimulados, simulados, agora, por mim mesmo. Vendo sorrisos através de espelhos. Gritos abafados aflitos sem compromisso com a paz, sem compromisso com o tempo. Amar o amor mais que o mar. Sonhar. Chamar a atenção, só pra pedir, perdão! Então, cada não vira sim, amanhã, radiante. E os pés decifram o chão inconstante. Sem dó de viver. Pois, em mim, em cada nó há um só. Há um véu. Há um céu. Há um sim. Há!

Ariel Pádua


Só no Ensaio

Foto: Vanessa Cornélio


Chorou litros de sangue ao saber do caso de Kátia com o dentista assassino. Não suportou o fato de ser trocado por um tiradentes que tirava a vida das mulheres. E com Kátia não foi diferente. Matou-a depois de três doses de uísque e uma leve desconfiança infundada. Afundou a faca em Kátia, o dentista assassino. Kátia escolheu seu destino quando, em detrimento do amor, escolheu o dentista, escolheu o dinheiro e uma vida sem graça, uma vida sem cor. Mas, mesmo Kátia, tão fútil e tão sem graça, não merecia a dor, o horror. Nem uma história sem sentido. Poderia aprender com a vida, porém, não teve tempo de estrear, ficou só no frio, só no ensaio, caída, de saias, sangue no chão. Ficou no papel, só de fato, um retrato, pra embrulhar peixes.

Ariel Pádua


segunda-feira, 8 de março de 2010

frases fajutas

frases fajutas esfomeadas
refogam feridas em fogo
brando brindo brega

danones vencidos

solto no ar
palavras que não estou
sentindo como se fossem
avisos

pras novas
gerações de lactobacilos
vivos

imponentes feito cotonetes
arrancando a cera quente

doce de leite

ariel

domingo, 7 de março de 2010

O Amor Sorriu

O amor sorriu, algo que não fazia há muito tempo, na verdade, ele nem se lembrava da última vez.

Os dois caminharam juntos, e logo tornaram-se amigos. Naquele mundo de frios, aquele coração batia, como uma pequena resistência.

Bibiana Garrido

www.vagamenteocioso.blogspot.com

sábado, 27 de fevereiro de 2010

futilidades descabidas

futilidades descabidas
é o nome do jogo sem
vencedores

nu de razão
desprovido até mesmo
de uma estratégia
muda

ao menos posso
reafirmar um ponto-de-vista
qualquer agora é meu
patrimônio genético impulso
narcisista

os ponteiros do relógio
vermelho quebrado
indicam três diferentes caminhos e meio
assim sem sal no mínimo é
isso


ariel

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Sopa de Letrinhas

Te vejo num grande navio. Com as mãos e a boca e os pés amarrados. Como uma linda flor presa na terra. Como uma grande língua presa na boca. Como o bom português preso às regras gramaticais. Guardando um rebanho de letras rebeldes.

Não há porque buscar palavras empoeiradas no dicionário se o mundo é corriqueiro. É preciso ser compreendido e instantaneamente esquecido para ser lembrado. É preciso morrer e nascer muitas vezes. Pra ter uma história pra contar.

E nadar no mar de letrinhas. E beber a sopa de ilusões até se afogar de vida.

Te vejo com seus vícios de verão, felicidades de canudinho e sonhos de confetes. Deixe as águas baixarem, verá as janelas acesas dos prédios refletidas no teu ser pequeno como um grão de areia. E grande como uma grande rocha.

Todos sabem, no fundo (do mar), que o impossível é apenas o contrário do possível. O não, não existe. O impossível é apenas uma palavra secundária, derivada, do medo. O impossível é possível.

Não imagine uma praia deserta. Não! Tarde demais. O sim novamente venceu.




Ariel

sábado, 20 de fevereiro de 2010

cinco minutos a viuvinha II

quando você chegar
com as malas promocionais
e pacotes de fio dental abertos
prometo não te transformar
numa empregada de cabelos curtos

não te obrigar a arrumar
a cama de manhã e à noite
varrer o chão do quarto
da cozinha do banheiro

prometo te agradar de vez
em quando dizer que você cheira
a uma caixa de revistas manchete
guardadas há muito tempo


ana guadalupe

http://welcomehomeroxy.blogspot.com

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Mundo Pensante

O Quarto - Van Gogh

Tinha rosto de criança crescida. Meio enjoado da vida. Novo por fora, velho por dentro. Sorriso amarelo, pele muito branca. Mãos macias de quem nunca trabalhou. Desconfiou do seu travesseiro e não conseguiu dormir. Alguém lhe disse numa festa que ele era per-fei-to! Disse três vezes. “Você é perfeito”. Nem sua mãe lhe disse aquilo. Podia ver as palavras se formando no ar. “Você é perfeito”. Não importava se eram verdadeiras. Foram ditas. Deus e o Diabo falam com a gente através das pessoas. Estranhou o travesseiro e o barulho do ventilador. Alguma coisa fazia sentido demais. Deus falou através do garoto de olhos azuis? Não pensou em voltar lá e pedir uma explicação mais detalhada. Só queria guardar o som das palavras e poder trazê-las sempre que precisasse. Aos poucos, a sensação de estranhamento foi passando e a certeza de algo dito três vezes foi tomando conta do seu espírito. Seu corpo ficou leve e sua cabeça encharcada de amor. Agora, o travesseiro se encaixava perfeitamente. Sentia que pertencia ao mundo e que o mundo falava com ele. Estava cansado de esconder suas feridas com um sorriso de plástico. As palavras voltavam e tudo fazia sentido demais. O travesseiro se ajeitava macio. “Achamos que os pensamentos só acontecem na nossa cabeça. Mas, na verdade, pensamentos são impulsos de energia e informação. Toda a natureza fala a mesma língua. Somos corpos pensantes num mundo pensante”. Desligou o ventilador e dormiu suave. Amanheceu e o sol bateu na janela sem cortinas confirmando sua pequena tese. Herói, louco, maldito, fútil, belo, sagrado... Perfeito. Era. Sim.

Ariel Pádua

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Playmobil


Fume vários cigarros - bem rápido -, é praticamente igual... Funcionam pra mim! Cigarros e Coca Light. Nenhum coelho passou apressado por isso não seguiu ninguém naquela noite branca. Os cigarros, esses sim, funcionaram. Coca Light não quis tentar. Pensou que a Coca Light era só a parte piada. Como azeitonas murchas tiradas da pizza: piadas são dispensáveis. O riso é quase mecânico, uma mistura de preconceito com medo. Não é legal. O sorriso brotado é mais nobre. Brotando como pipocas, os coelhos... Brancos, fofinhos, apressados, medrosos, ariscos, férteis, sexuais - quando escrevo, escolho as palavras pelo som, nunca pelo sentido, não é um truque para ocultar verdades, é que não sou lógico, olho pro relógio, sinto medo, sinto frio, sinto muito -, sinto, não sou e não sei, nada. E o preconceito. Este nunca tem pressa porque tem raízes profundas. A noite branca mostra o amanhã amanhecendo tão claro. Já vai acordando e fazendo café bem preto no piloto automático. Já vai escolhendo a cueca vermelha. Já vai decidindo as eleições presidenciais e o Oscar de melhor maquiagem. Sua cara é de pau e de poucos amigos. Frio como um Playmobil nazista, dá seu último trago, antes de. Nascer de novo?

Ariel

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Gangorra

Paul Klee

O Senhor Tédio vem às vezes dizer que você não é nada e que não faz diferença. Não que ele esteja completamente errado. Somos poeira no vento. Mas a vida contraria a razão. “A única conclusão é morrer.” – disse Pessoa. Se a vida é razão e toda equação leva à neutralidade, então Pessoa está certo e Senhor Tédio também. Mas a vida é inventada, sonhada. É ficção real com começo, meio e fim (não necessariamente nesta ordem). E essa história pode ser divertida, ou bela... Já que a vida é tentativa, é erro, é encontro, é desencontro, é amor, é sexo, é riso, é sorriso, é só, é acompanhado, é vela, é cela, é choro, é chuva, é rima, é sina, é ouro, é morango... É sonho. É doce no começo e amarga no fim. Em alguns casos, exatamente o contrário. O Senhor Tédio é muito amigo da Dona Rotina. Eles estão sempre fofocando e cuidando para que tudo nunca mude. Deixa eles pra lá! O Senhor Tédio e a Dona Rotina são realistas demais.


Ariel Pádua

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O Mistério

Daniel Araújo

A igreja e a psicanálise levam os sonhos para o campo da razão. Mas não há mais tempo para teorizar resíduos. Sonho é resíduo, é resto, é, portanto, lixo. O universo, numa tradução literal, significa “canção única” (único verso, única canção). Este “universo” é feito de sons e ondas que se cruzam e trocam informações. A tecnologia nada mais é que uma tentativa de recriar a natureza pelas mãos humanas. Antes da roda já havia a Terra, imensa e redonda, girando cheia de mistérios e informações de difícil (talvez impossível) compreensão pela mente humana animal em processo evolutivo. Mas que mal há na dúvida? Aceitar o mistério é um luxo para poucos. Todos buscam freneticamente respostas para todas as externalidades quando todas as possíveis respostas só podem ser encontradas dentro de nós mesmos: no silêncio, na pausa, na respiração e não na razão inventada a cada estação que pode levar ao erro. A verdade, se é única como dizem, só tem um nome: Amor. Simples e sem explicação. “Viver ultrapassa qualquer entendimento.” – já dizia Clarice. O Amor (em todas as suas formas) é real, pois dispensa explicações. Todas as teorizações levam a eternos debates, mas o Amor, este, é indiscutível porque é verdadeiro em cada célula, em cada átomo, em cada ato.

Ariel

domingo, 24 de janeiro de 2010

Do Orgulho ao Amor ou da Razão à Fé

Daniel Araújo


O ser humano viciou-se no verbo alterar. O ser humano viciou-se em alterar suas percepções do mundo. É por isso que metade do mundo é viciada em drogas e a outra metade é viciada na religião. É por isso que todos, sem exceção, são viciados em jogar. Jogar é seduzir. Jogar é trapacear. Sorte no jogo, sorte no amor. A realidade, vírgula, parece ao homem (ou a mulher!), real demais pra ser verdade, ou, verdadeira demais pra ser real. Falar é emitir sons com (ou sem) sentido que são imediatamente decodificados por outra pessoa. Pessoa apenas no sentido literal. Que fique claro! Como se pessoas pudessem caber em meia dúzia de frases viciosas, viciantes como no jogo, ou seja, o vício no perde e ganha que traz o caos para o homem (ou a mulher!). Há leis no mundo que não podem ser alteradas. Há regras universais. É por isso que nascemos e, é por isso que morremos. Como pássaros presos em uma gaiola, podemos escolher: receber a luz ou ficar no cantinho, nas sombras. A luz é o livre arbítrio. A única solução para o vazio da razão no sentido de fé no nada. O livre arbítrio é sinônimo de liberdade de pensar. Liberdade de se deixar ser julgado, sempre, é claro, com um sorriso no rosto daqueles quem vem do coração.

Ariel Pádua

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

eu-e-você


cada palavra tinha pra ela um sentido sexualmente execrável como noites mal dormidas e cervejas estragando fora da geladeira sem falar no tédio chuvoso e da preguiça de fazer macarrão ouvindo qualquer coisa que parece música mas não parece novidade só o vento fresco sempre igual e sempre novo na janela de teresa dava pra ver sua lista de contatos no modo invisível covardes escondidos de si mesmos quem sabe a gente pega um cineminha mais tarde a gente vai pra casa a gente eu-e-você a gente dá um rolê ou espera acontecer de uma carta entrar por baixo da porta talvez mais propaganda pentecostal ou um rombo na conta do novo rambo do cinema nacional que é branco e mata bandidos da mesma favela onde mora depois de cheirar um certo pó de arroz percebe uma linha de expressão e um certo ar de sabichão que não sabe nada além do óbvio destino de todas as teresas tesudas ou não


Ariel

sábado, 2 de janeiro de 2010

Passou



Seu namoro durou menos que a fama da Lady Gaga e suas frases curtas do Twitter já não tinham mais graça e todos os seus cedês do Oasis não valiam mais nada no Mercado Livre quando a Som Livre já tinha falido foi então que percebeu a eletrostática imagem do seu rosto vencido no espelho mágico dos vampiros falidos do Morumbi daí exibiu um olhar excludente como o sorriso do Serra.

Ariel