Foto de Fabiana Santinelli
Ariel
Foto de Fabiana Santinelli
Débora nunca gostou do seu cabelo muito liso, nem do seu nome e tinha espinhas. Nunca sorriu. Só pra tirar fotos, mas não conta. Era feia. Amarga, invejosa e fofoqueira. Todo mundo é meio Débora pra falar a verdade. Todo mundo já foi feio, já foi pobre, ou é, ou será. Será velho, será chato... Débora! Era uma víbora. Criava intrigas na escola e tudo acabava em pancadas na saída. Ela saía sempre ilesa por fora e marcada por dentro. Canceriana, dizia que a loucura é que move o mundo – pra frente ou pra trás –, mas o tédio paralisa, e, o tédio é a infelicidade. Sorria por dentro com suas pequenas maldades diárias e seguia lisa e ilesa. Um belo dia Débora ficou bela. Teve seus 15 minutos. Casou-se com um dentista, e juntos, compraram um apartamento de revista. Foi feliz pra sempre até os 47. Depois do enterro, o dentista desenterrou uma ex-namorada do mesmo nome. Mania, sina, sinal? Pouco importa. O dentista queria tudo novo, assim-bem-clean-sabe, branco como o céu, do jeitinho que ele viu na revista.
Ariel Pádua
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"Há três espécies de déspota. Há o que tiraniza o corpo. Há o que tiraniza a alma. Há o que tiraniza o corpo e a alma. O primeiro chama-se Príncipe. O segundo chama-se Papa. O terceiro chama-se Povo."
Oscar Wilde
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"A minha pergunta será portanto tão simples como as minhas análises: há limites para a indignação?" - José Saramago
http://caderno.josesaramago.org/2009/07/06/critica
Ariel
A noite gela e gera monstros e sombras, rumores e amores mal resolvidos, fotografias envelhecidas. Alice não sabia dançar. E eu, assim, não sabia dar o peixe nem ensinar a pescar. Alice vai ser estrela de cinema. Vai ficar pra sempre no céu com os diamantes. Um dia eu vou também, boneco pagão, fantoche, tomar um quentão na quermesse, atirar em patinhos amarelos. O frio da noite pede cama, carne, calor. Pede Alice, pede laços, lagos e luas. A noite pede aço, pede veludo. Pede maçã-do-amor.